A cobertura brasileira da Queda do Muro de Berlim
- Turma Jornalismo Impresso
- 24 de jun. de 2019
- 2 min de leitura
Pedro Bial conta como foi a experiência de cobrir um dos momentos mais memoráveis do século XX

Poucas pessoas na época acreditavam na derrubada do Muro de Berlim. Em 1989, ele não só foi destruído em um dia memorável como os alemães conseguiram criar uma identidade nacional novamente, o que era inimaginável logo após a queda. O jornalista Pedro Bial foi o brasileiro que cobriu a queda do Muro de Berlim e afirma que por mais sábio que sejamos, sempre somos surpreendidos pela realidade, o que é uma lição de humildade para todos os jornalistas.
Para Bial, cobrir a queda do Muro de Berlim foi muito mais do que uma reportagem, por ser filho de refugiados que tiveram que sair da Alemanha em momentos diferentes. 1989 foi o ano do fim de um ciclo de famílias que se desestruturaram há gerações e que finalmente poderiam se reestabelecer, como a dele.
O preço que o desterro cobra é muito alto e cobrir aquela história era contar para a minha avó que o ciclo tinha fechado - disse Bial.
Entre as figuras memoráveis que o jornalista recorda da cobertura da queda do Muro está Gunter Schabowski, o porta-voz da ex Alemanha Oriental, burocrata do partido comunista, entediado diante da vida e de todos.
Schabowski foi responsável pelo muro cair do jeito que caiu - segundo Bial.
O porta-voz falou na televisão que viagens de um lado da Alemanha para o outro iam ser liberadas, mas foi muito indagado pelas pessoas, que queriam saber quando isso ia acontecer. Sem saber a resposta, procurou nos papéis, não encontrou nada e disse que seria imediatamente. Todo mundo foi pra cima do Muro, começou a juntar uma multidão e, na hora, o último líder comunista alemão Egon Krenz ordenou a abertura do país.
O jornalista também se recorda do momento das primeiras eleições livres após a Queda do Muro de Berlim e diz que encontrou um senhor em um barzinho cujo último voto tinha sido em Adolf Hitler. Para Bial aquilo foi muito marcante, pois o tempo que o país não se via em um cenário de democracia e unificação era muito maior do que imaginava.
A ascensão de uma estrela de extrema direita sempre é preocupante, mas o que tá em questão hoje em 2019 é a própria democracia representativa - diz Pedro Bial.
A democracia tem em uma de suas virtudes a fragilidade e, como na criação do Muro, o mundo vive hoje um momento confuso e tudo aponta para um desenrolar trágico. Para ele, já é trágica a crise de refugiados, a desigualdade fortíssima e outras características sociais atuais.
A humanidade nunca esteve tão apta a resolver problemas como fome e guerra e é uma questão política que precisa ser resolvida - analisa Bial sobre o cenário atual mundial.
Por Maria Nasser
Comments