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A luta por inclusão social através da arte nos muros do Rio de Janeiro

  • Foto do escritor: Turma Jornalismo Impresso
    Turma Jornalismo Impresso
  • 24 de jun. de 2019
  • 3 min de leitura

Atualizado: 26 de jun. de 2019

A cultura do grafite vem ganhando cada vez mais espaço nas ruas como forma de arte e crítica social.

Em 2006, grafiteiros do Rio de Janeiro se juntaram para a realização de um novo evento, semelhante ao Meeting of Styles (MOS), realizado na comunidade cruzada do Leblon, Zona Sul do Rio. Esse evento contou com a participação de diversos artistas, porém poucos eram os locais e a entrada era limitada a uma lista de convidados, o que acabou gerando revolta. Foi aí que surgiu a ideia da realização de um evento democrático, o Meeting of Favela (MOF).


Diante dessa exclusão que gerou revolta, com seus próprios recursos, um grupo de artistas do Rio montaram painéis e oficinas nas comunidades em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Lá os artistas não eram selecionados, todos eram bem-vindos, inclusive voluntários para a organização do evento, tal como fotógrafos e DJs. Foi uma grande realização da cultura do grafite, sendo essa a primeira vez que a região recebera um evento de grande porte, cheio de arte e cultura. Hoje o festival conta com patrocinadores e vem sendo realizado a cada ano com a ajuda, dos moradores da região.



Mural feito no pré-MOF em 2017 Foto: Clarissa Pivetta

O grafite, há muitos anos, é compreendido como um ato de luta por direitos iguais e integração social. Essa cultura, para a grande maioria, além de ser a porta para o mercado de trabalho como artista, significa também uma busca pelo reconhecimento moral perante uma sociedade excludente. Essa arte, hoje não é mal vista nas ruas do Rio de Janeiro, mas não se pode dizer que tem total reconhecimento, principalmente por ser herança das zonas mais esquecidas da cidade, em torno das favelas.


Muitas ONGs adotaram a prática do grafite como forma de inserção do jovem na sociedade, já que a cidade limita o espaço entre o pobre e o rico. A partir disso, o jovem consegue enxergar novos caminhos além daquilo que parece mais fácil. Grafiteiro há 11 anos, Leonardo Simões de 27 anos, é morador da Praça Seca, Zona Oeste do Rio e para ele o grafite é arte, cultura e oportunidade

O grafite carrega com ele uma responsabilidade social, ao mesmo tempo em que ele enfeita, redecora e revitaliza, pode e deve trazer uma pegada social com assuntos como política, desigualdade social, racismo e homofobia – disse Leonardo

Hoje essa cultura é mais valorizada em comparação a alguns anos atrás, quando a arte era totalmente marginalizada pela sociedade. Porém, ao mesmo tempo em que há interesse público no grafite, também há atrito, já que é interesse do Estado manter parte da sociedade esquecida. Segundo Leonardo, as zonas pobres da cidade são marginalizadas, logo excluídas e por isso o poder público se interessa tanto na arte do grafite.


Quando os painéis das Linhas Amarela e Vermelha foram colocados, logo houve revolta por parte da população que se sentiu isolada do restante da sociedade, então eles colocaram artistas para enfeitar os painéis com seus desenhos, mas não poderia ser qualquer desenho, não era autoral – indagou

Ele contou também que a parte de dentro dos painéis que ficam voltados para as comunidades, foi totalmente esquecido pelas autoridades e isso acabou movimentando artistas da região para um trabalho de revitalização dos painéis.


A possível aceitação do grafite pelo poder público, não significa que tenha ocorrido alguma mudança quando o assunto é inserção social e oportunidade. Os recursos no campo da arte e da vida continuam limitados, já que a grafite continua tão associado ao cotidiano das favelas. Pelo papel que vem representando hoje, de denúncia, insatisfação, opressão e vontade de fazer parte de uma sociedade supressora, o grafite ainda não atingiu um estágio de mudança, onde todos possam ser vistos fazendo parte de um conjunto.

Por Victoria Ferreira

 
 
 

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