Algoritmos, os muros digitais que representam um perigo para a democracia
- Turma Jornalismo Impresso
- 5 de jun. de 2019
- 4 min de leitura
Atualizado: 26 de jun. de 2019
A evolução da internet afeta diariamente o presente e o futuro da humanidade

O Facebook admitiu recentemente que o uso de algoritmos nas suas plataformas deu errado. De acordo com o CEO Mark Zuckerbeg, dados de usuários foram expostos. Zuckerberg também é dono do Instagram, WhatsApp e Snapchat. O deputado brasileiro Alessandro Molon, relator do Marco Civil da internet, se mostrou preocupado com o rumo que o uso de algoritmos está tomando. Segundo ele, impactos dos muros digitais estão saindo do mundo virtual e atingindo o mundo físico.
Os algoritmos separam as pessoas das opiniões contrárias, fazendo com que elas só encontrem notícias as quais concordam. Muros sempre estiveram na história da humanidade. Hoje, muros ainda são muitos presentes ao redor do mundo. Eles separam ideais, pessoas, territórios e culturas. Provavelmente o mais famoso ao redor do mundo é o muro que fica na fronteira entra os Estados Unidos e o México, graças ao presidente norte-americano Donald Trump. Entretanto, muitos outros ainda estão espalhados ao redor do planeta, como o muro que divide as Coréias e o muro da Cisjordânia. Graças ao desenvolvimento da sociedade, novos tipos de muros foram criados, como o muro digital. O muro digital é invisível, e exatamente por isso é um dos mais perigosos. Ele está presente diariamente na vida do cidadão comum e influencia no futuro da humanidade.
As redes sociais acabam construindo uma série de “bolhas” que cada vez menos se comunicam umas com as outras. Isso tem sido um dos fatores da crescente polarização no mundo político, mas também no mundo cultural, dificultando o diálogo entre quem pensa diferente. (...). Isso, na minha opinião, tem contribuído para o empobrecimento do debate e para uma maior intolerância, tanto na internet como no mundo físico mesmo - afirmou o deputado Alessandro Molon
Os muros digitais estão presentes em diversas redes sociais, como Instagram, Facebook e Twitter. O caso mais famoso é o do Facebook. A própria empresa criada por Mark Zuckerberg admitiu que os algoritmos definem o que aparece para o usuário e até divulgou uma função que explica como eles funcionam.
Felipe Martinez, diretor de Data Science da empresa Winnin, explicou como os algoritmos funcionam:
Algoritmo é meio que uma receita de bolo de algo que você precisa fazer. É a forma, o método que você vai fazer alguma coisa. Então, para você fazer uma rede social, onde você precisa conectar uma pessoa a outra, você tem que ter um algoritmo que diga como fazer isso. (...). Quando você vai para um fórum, por exemplo, algum lugar que várias pessoas coloquem suas mensagens lá, tem um algoritmo que coloca as mensagens mais recentes em cima das mensagens mais antigas, e por aí vai. (...). Toda troca, toda ação que você tem na tela de um computador é um algoritmo que executa.
O algoritmo do Facebook, então, funciona como uma forma de “filtro”. Na linha do tempo do usuário a grande maioria dos posts que aparecerão é relacionada a assuntos de interesse do usuário. Por exemplo: se o usuário se chama João. João apoia as ideias do partido Novo e torce para o Botafogo. Por isso, João curte páginas relacionadas a esses dois assuntos e interage mais com publicações que têm alguma relação com tais. O algoritmo do Facebook identifica João e seus principais interesses. Assim, a maioria das publicações que aparecerão na linha do tempo de João é ou sobre o partido Novo ou sobre o Botafogo.
Na maioria das vezes, essas publicações vão ser positivas em relação a esses assuntos, elogiando-os de alguma forma. Isso impede que João veja publicações sobre o PT ou sobre o Flamengo, por exemplo. No âmbito político, isso é muito preocupante. João só verá o seu lado da moeda, assuntos aos quais ele concorda e não verá praticamente nenhum tipo de publicação que faz oposição ao pensamento dele, dificultando que ele possa fazer algum tipo de discernimento político. Assim, João não entra em qualquer tipo de discussão com os ideais dele. Ao invés disso, ele só lê e interage com assuntos que ele já concorda e não sai da sua zona de conforto.
De acordo com Felipe Martinez, o impacto que um algoritmo como o do Facebook pode ter é enorme. O diretor afirma que, orientando o usuário a ter apenas um tipo de visão, o algoritmo põe em risco muito mais do que apenas a opinião de uma pessoa, e esse impedimento de pluralidade cria na rede social uma espécie de embate. Aqueles apoiam o PT, por exemplo, desafiam aqueles que apoiam o Novo. Conforme Felipe disse, “o algoritmo é criado justamente com o intuito de mostrar à pessoa apenas o que ela se interessa”.
De acordo com ele não é tão simples explicar como o algoritmo funciona, é preciso ter uma base e uma certa quantidade de estudo. Para uma empresa como o Facebook, entretanto, criar um algoritmo desse tipo é o menor dos problemas. Essa divisão de ideias é perigosa pois chegou a um nível no qual está influenciando indiretamente na política de países ao redor do mundo.
No Brasil, uma das ferramentas utilizadas para tentar parar com as informações falsas (a popularmente conhecida “Fake News”) foi o Marco Civil da Internet. Esse projeto foi sancionado em 2014. Tendo como relator o deputado Alessandro Molon, o Marco Civil tem como objetivo trazer a liberdade de expressão, a neutralidade da rede e a proteção da privacidade dos usuários. Segundo Molon, tal projeto ainda não conseguiu acabar com a desinformação (que gera as “Fake News”), entretanto, ele define como crime qualquer tipo de calúnia e difamação, e, com os dados dos usuários salvos pelo projeto, é possível descobrir quem está espalhando essas notícias falsas.

Segundo ele, essa discussão entra na questão da liberdade de expressão. Não cabe ao projeto definir que tipo de informação é falsa e deve ser banida.
Na visão do deputado, o algoritmo do Facebook é problemático. Graças a ele, bolhas ideológicas são criadas e as consequências atingem tanto o mundo virtual quanto o mundo físico.
Segundo o político, esses algoritmos são perigosos para a própria democracia. Molon acredita que casos como a eleição americana e o Brexit são exemplos de resultados político eleitorais questionáveis, que só podem ser explicados pela internet e pela desinformação em massa. O deputado acredita que esses resultados não seriam como foram se não fosse pela internet. O algoritmo, na visão dele, virou uma espécie de “monstro” que as próprias plataformas já não sabem como lidar. Para piorar, terceiros entenderam como os algoritmos funcionam e os usam para beneficiar as ideias que eles acreditam.
Por: Cesar Junqueira
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