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Milton Temer aponta motivos ocultos na construção dos muros do México e de Israel

  • Foto do escritor: Turma Jornalismo Impresso
    Turma Jornalismo Impresso
  • 5 de jun. de 2019
  • 4 min de leitura

Atualizado: 26 de jun. de 2019

Governos lucram com a segregação e a falta de voz das minorias

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Cartoon divulgado pelo jornal The Economist (Por: Hanna Barczyk)

Além das semelhanças arquitetônicas, os muros da fronteira do México com os

Estados Unidos e da Cisjordânia, no Oriente Médio, exibem outras características em comum. De acordo o jornalista, escritor e ex-deputado Milton Temer, as duas construções lidam com questões profundas e controversas, como a xenofobia, razão pela qual acredita que não será tão fácil de derrubá-los.


O desejo pela separação dos povos é compartilhado hoje por nações inteiras. O mundo aprendeu a conviver com o racismo, a xenofobia e a intolerância religiosa. Então, quem vai se impor contra estes objetos de opressão? - indagou Milton.

Já no caso do Muro de Berlim, Temer disse que a obra, marco da Guerra Fria, nasceu

da necessidade de se evitar o deslocamento das mentes pensantes, a circulação de ideias, do lado socialista para o capitalista. Com o tempo, esta limitação se tornou um símbolo do segregacionismo político e suas atitudes resultaram na ruína do lado soviético. A história se repete nos dias atuais, com motivos bem mais profundos sustentando estes monumentos.


Desde 1994, grandes potências, como os Estados Unidos e o Canadá, tiram proveito

dos setores trabalhistas/industriais do México para prosperar no mercado internacional.

Mesmo usufruindo livremente da mão-de-obra barata e da abundância de matérias-primas do país, os governos americano e canadense mantém diversas leis segregacionistas para repelir os trabalhadores e empresas mexicanos de suas regiões.


Após o acordo de livre-comércio (Nafta), assinado pelos três países, era de se esperar

que um grande bloco comercial se formasse no norte do continente, mas não. Graças as taxas ínfimas cobradas em território mexicano, as empresas norte-americanas e canadenses se destacam no mercado exterior com produtos a preços muito competitivos. Por não ter o mesmo nível estrutural, o México não consegue manter tais preços e é obrigado a se retirar da corrida. Isso levou a uma acentuação da desigualdade entre os associados e deu início a um processo migratório.


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Caravanas de imigrantes reunidos na Cidade do México antes de avançarem para a fronteira (Foto: Reuters)

Mesmo participando de inúmeros acordos comerciais com os Estados Unidos e o Canadá, os representantes mexicanos não são bem recebidos ao norte. Um sólido muro, de mais de três mil quilômetros, deixa isso bem claro ao bloquear a fronteira dos EUA.


Aqueles que conseguem entrar, muitas vezes não têm permissão legal para residir no país e vivem em constante alerta. Atualmente, cerca de 12 milhões de mexicanos moram no território norte- americano e destes, mais de 5 milhões estão na região de maneira irregular. Mesmo sem acesso aos direitos básicos de uma sociedade, para muitos, esta é a melhor opção.


As políticas migratórias ficaram bem mais rígidas após a vitória do candidato Donald

Trump, em 2016. Logo na corrida pelo cargo, o político ganhou os tabloides ao afirmar que o governo mexicano pagaria pela “construção” do muro, mas isto não aconteceu. O presidente do México, Andrés López Obrador, refutou a ideia de que o país arcaria com o projeto, mas admitiu a urgência por medidas para frear a imigração ilegal.


No primeiro ano de mandato, Trump comemorou o declínio de entradas ilegais na

fronteira, mas logo no ano seguinte os números voltaram a crescer. Em 2017, os oficiais da Agência de Aduanas e Proteção Fronteiriça Americana (CBP, em inglês) prenderam 304 mil pessoas e, em 2018, foram quase 397 mil. Para este ano, os especialistas preveem um aumento ainda maior.


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Em 2019, uma nova versão do Nafta entrará em vigor, com o nome “Acordo Estados Unidos-México-Canadá” (USMCA, sigla em inglês). Nele, o governo mexicano elevará as taxas sobre a produção automobilística no país. Isso permitirá que os Estados Unidos se tornem um destino atrativo para as montadoras internacionais. Essa mudança deve gerar uma redistribuição dos postos de trabalho entre estes dois países, o que reduzirá as vagas existentes no México, permitindo um agravamento da crise migratória.


Esta mudança foi uma das exigências do presidente norte-americano para a renovação

do acordo. E mesmo com a colaboração do governo mexicano, Trump manteve seu discurso segregacionista, assegurando que o muro será concluído.


SEGREGAÇÃO NO ORIENTE MÉDIO


Os Estados Unidos não são os únicos tirando proveito de seus vizinhos. Do outro lado

do mundo, o governo israelense também sofre fortes críticas por ter cercado o povo palestino com o Muro da Cisjordânia.


A barreira, de aproximadamente 760 quilômetros de extensão, separa os Territórios

Palestinos Ocupados desde 2002. De início, o governo afirmou que a medida era uma tentativa de dificultar a entrada de terroristas em Israel. Entretanto, logo o abuso de poder tomou conta das fronteiras.


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Policiais da fronteira controlando a entrada dos palestinos em Jerusalém (Foto: Activestills)
Eles [Estado de Israel] falam em proteger a cidade, expulsar a ameaça. Mas quem está separando famílias, destruindo plantações e empresas são eles. O povo palestino vive à mercê, coagido pela força militar local - afirmou Temer.

Quase metade do território palestino é ocupado por plantações de oliveiras, cujos

lucros sobre a venda alimentam cerca de cem mil famílias. Após a criação do muro, milhares de trabalhadores foram retirados de suas terras e grande parte do plantio foi destruído pelas forças armadas israelenses.


Desde o início da ocupação, em 1967, mais de 800 mil oliveiras foram avariadas pelo

exército, o que equivale, segundo o Ministério da Economia Palestino, a uma perda anual de US$ 55 milhões. Aqueles que ainda mantêm cultivos fora do muro são regularmente proibidos de cuidar das safras, por “motivos de segurança”, afirma o Estado.


Estes mesmos terrenos são transformados pelo governo em assentamentos para

receber os 500 mil colonos judeus residentes atualmente em Israel. A ação foi considerada ilegal por diversos órgãos internacionais, tais como a ONU, órgão oficial responsável pela divisão destes territórios. Contudo não há represálias, pois quem controla esta região é o governo e o exército israelense.


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Cidadãos amontoados em um dos pontos da fronteira

Com a ocupação da área, a tensão estabeleceu-se entre os povos, o que desencadeou uma série de conflitos. Para proteger Israel e seus habitantes de possíveis retaliações dos grupos extremistas palestinos, o Estado de Israel criou também barreiras internas, chamadas checkpoints, nos Territórios Palestinos Ocupados.


Diariamente, milhares de palestinos são submetidos a revistas nestes pontos da

fronteira. São mais de 500 postos espalhados, não só no limite entre Israel e Palestina, mas também nas divisas das cidades dentro do muro. Militares armados selecionam os cidadãos para inspeções, que podem durar de trinta minutos a seis horas. Esta medida também dificulta a vida dos trabalhadores palestinos que buscam empregos fora da muralha.


Todas estas ações visam à concentração de um grupo específico em um ambiente

vigiado e patrulhado. Dando uma falsa sensação de segurança ao povo israelense, e instalando um regime de medo entre os palestinos.


Por Marina Marcondes

 
 
 

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