Muro de Berlim fez Hollywood redescobrir os filmes de espionagem, diz crítico Eurico de Barros
- Turma Jornalismo Impresso
- 5 de jun. de 2019
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Atualizado: 24 de jun. de 2019
Os 30 anos da queda do Muro de Berlim são uma oportunidade para relembrar filmes clássicos sobre a época

O cineasta americano Billy Wilder se preparava para rodar em Berlim o filme “Um, Dois, Três”, que conta a história de um executivo de uma multinacional às voltas com os problemas causados pelo envolvimento da filha do chefe com um comunista, quando teve de mudar o set de filmagem para Munique. O Muro de Berlim, que começava a ser erguido, obrigou a transferência. “Um, Dois, Três” é uma espécie de marco do cinema americano, pois representa a redescoberta dos enredos de espionagem, que estavam adormecidos desde o fim da Segunda Guerra.
Segundo o crítico de cinema Eurico de Barros, “a presença americana no momento zero da construção do Muro, deu a vantagem para a largada na frente das produções cinematográficas ambientadas na Alemanha dividida”. Do filme de Billy Wilder até a “Espiã Vermelha”, lançado recentemente no Brasil, o cinema internacional produziu uma quantidade expressiva de filmes inspirados na Guerra Fria e em particular no Muro de Berlim.
Os filmes com a temática da espionagem tiveram seu auge na época da Guerra Fria. Ela começa a aparecer nas produções cinematográficas durante a Primeira Guerra Mundial com os “espiões de Hitler”, mas, com a morte do ditador, esse assunto ficou adormecido para os cineastas até meados da década de 1960, no avanço da “paranoia comunista”. Nesse momento, a espionagem reconquistou o espaço nas grandes telas.
Se no primeiro momento o conflito era com um personagem da história, o auge da espionagem se deu quando o inimigo passou a ser uma ideologia. Os espiões norte-americanos passaram a ser os homens “fortes e bons”, representados, por James Bond, de 007, que no primeiro filme da franquia, lutava contra o mal, representado pelo gênio cientista, Doutor No, determinado a destruir o programa espacial dos Estados Unidos. Deste filme em diante, a visão fantasiosa sobre a espionagem e sobre o maniqueísmo “ocidente bom vs oriente mau” se espalhou na cultura, chegou às séries de televisão com O Agente U.N.C.L.E e Missão Impossível.
Enquanto a tensão entre os hemisférios foi trabalhada, principalmente, pelos norte-americanos e ingleses, "o cinema alemão começou também a filmar o Muro e Berlim cortada ao meio, para refletir sobre a sua identidade e o significado mais profundo da construção - e subsequente derrube - para os berlinenses e para a história da Alemanha, até mesmo da própria Europa”, explica Barros.
O crítico acrescenta que este olhar para diferentes aspectos da época deu origem a filmes tão diferentes em narrativa, intenção, embrulho ideológico, tom e sensibilidade “como, do lado anglo-saxão, 'O Espião que Veio do Frio', de Martin Ritt ou 'O Meu Funeral em Berlim', de Guy Hamilton, e do alemão, 'The Tunnel', de Roland Suso Richter, 'As Asas do Desejo', de Wim Wenders', 'Adeus, Lenin!' de Wolfgang Becker ou 'The Legend of Rita', de Volker Schlondorff. Ou seja, as produções dos Estados Unidos põem a ênfase na ação e na intriga de espionagem. As alemãs trazem o trivial e buscam a verossimilhança, preocupando-se mais com o elemento humano e, por vezes, político. Eurico de Barros conclui, então, que estas, naturalmente, carregam em si um quê de proximidade e pertencimento, afinal, tudo se passa no país deles.
Da mesma forma que aconteceu com a morte de Hitler, a queda do muro de Berlim, em 1989, podia também significar o desgaste da popularidade dos filmes de ação com espionagem, mas a indústria cinematográfica foi atrás de novos inimigos para os seus agentes, como os chineses, o tráfico de drogas latino ou os russos que querem vingança.
Por Bruna Ribeiro
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