Turismo de elite e indústria imobiliária estimulam privatização de balneários públicos
- Turma Jornalismo Impresso
- 5 de jun. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 26 de jun. de 2019
Angra dos Reis, um dos principais destinos turísticos da costa fluminense, é palco de uma disputa entre os condomínios de classe média alta e o turismo popular

O geógrafo Rafael Ribeiro, um dos membros da Sociedade Angrense de Proteção Ecológica, afirmou que moradores de residências de luxo na orla da região estão recorrendo ao discurso da limpeza das praias para justificar que elas sejam cercadas, impedindo que os visitantes a desfrutem. Para ele, essa alegação esconde o preconceito e está relacionada a um fenômeno recorrente: a obstrução de espaços coletivos.
Angra dos Reis, um dos principais destinos turísticos da costa fluminense, é palco de uma disputa entre os condomínios de classe média alta e o turismo popular pelas praias localizadas especialmente nas ilhas da Baía de Ilha Grande.
Segundo mapeamento feito em 2013 pela geógrafa Irene Chada Ribeiro, das 30 praias ocupadas em Angra dos Reis por residências ou por condomínios, 70% tinham o acesso privatizado e 30% o acesso controlado. Para Irene, o cercamento das praias faz parte de um projeto econômico turístico-imobiliário que, em Angra dos Reis, se consolidou através do imaginário de ter uma “casa na praia”. A mesma lógica da privatização das praias de água salgada se perpetua também nas de água doce. O fenômeno do cercamento é também comum na obstrução do acesso em certos trechos de rios da região, como acontece no Rio Bracuí e Guarirô.
Churrasco de elite
Em Angra, a privatização das praias é um caso emblemático, por conta de estar localizada em uma baía com praias de menor extensão, “facilitando”, portanto, esse tipo de cercamento. Caminhando em paralelo com esse fenômeno estão os movimentos de luta pelo direito à praia, como as “Farofadas”. O termo, utilizado historicamente pela SAPÊ, é tanto uma provocação como um posicionamento político, por conta de ser utilizado comumente de forma pejorativa por parte da elite – e também por agentes do turismo.
Quando a classe baixa-média faz um churrasco na praia ou em embarcações, é chamada de farofeiro. Curioso, é que a classe alta faz o mesmo em suas lanchas e iates, mas aí é acompanhado de champanhe e muito glamour - comenta a geógrafa
A obstrução de áreas fluviais de lazer também ganha força no Lago Paranoá, localizado no bairro Lago Sul, na capital do país, Brasília. O local é dividido por Quadras Internas e Quadras Lago, que dão acesso ao Paranoá. A estudante Florencia Tomé - moradora de uma das QIs durante cinco anos - conta que inicialmente o projeto do bairro era que existissem 29 quadras, mas em 2012 políticos e pessoas de classe média alta criaram a QI0.
A Quadra Interna 0 foi criada em uma das entradas do lago mais acessadas pelos moradores e visitantes. Apesar do espaço não ter sido destinado legalmente para fins residenciais, os novos moradores construíram uma guarita na rua de acesso - que controla a entrada de visitantes -, ocuparam alguns trechos de ingresso na orla do Paranoá e colocaram boias em torno da área que dá para as casas.
A Agência de Fiscalização do Distrito Federal (Agefis) concluiu em 2018 a desobstrução da orla do Lago Paranoá, na época só "resistiram" cerca de cinco lotes de embaixadas, que não quiseram recuar as cercas. Apesar da intervenção, algumas outras ocupações em áreas verdes no em torno do lago ainda perduram chegando a tomar 400m² de área pública.
Por Marina Lattuca
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